Com a web 2.0 chegou o spammer 2.0. Este é o spammer de hoje.
O seu rosto mudou.
O spammer 2.0 não fala línguas estranhas, nem vende aumentos de pénis, promoções bancárias, medicamentos milagrosos, jogos de sorte e de azar ou oportunidades de negócio em países exóticos.
O spammer 2.0 já não ataca por email ou em forma de banner inofensivo em sites de visita habitual, não infecta o computador para conseguir ilegalmente informação sensível nem sequer já é dos que deixam comentários intencionados em blogs alheios.
O spammer 2.0 expressa-se com certa correcção e sem espalhavento: não tem o aspecto de um troll ou de um hooligan, apesar do seu discurso focar mais o acessório que o fundamental.
O spammer 2.0 anda pelos fóruns, chats e sítios de bisbilhotice: é o seu habitat natural. É ali onde há mais presas para apanhar com o seu ardil de encantador de serpentes: é simpático, agradável, está sempre disposto a ajudar; tem sempre à mão um link necessário, uma opinião infalível, uma imagem divertida... é do tipo: "por acaso tenho aqui uns versos" ou "passava por aqui e..."
Essa cara de "bom parceiro" esconde, na verdade, uma realidade muito mais inconfessável: uma irrefreável necessidade de chamar a atenção, de ser o centro das atenções, de centralizar a conversa, quer o tom seja amável ou agressivo. Ali está ele, incapaz de escutar algo do que se diz, porque está muito interessado em escutar-se a si mesmo.
O spammer 2.0 está encantado por conhecer-se; só ele emite juízos válidos; é douto, presume-se culto e sabe mais que ninguém sobre qualquer tema; é infalível mas ao mesmo tempo condescendente e conciliador.
O spammer 2.0 é covarde porque oculta as suas verdadeiras intenções. Por trás da sua fachada amigável esconde-se o verdadeiro rosto da cobiça da atenção e desprezo profundo pelo que o rodeia, que não é mais que um meio para conseguir o seu propósito fagocitador.
O spammer 2.0 já não vende produtos ou serviços. É spam emocional, tanto para ele, necessitado de colocar essa mercadoria, como para os outros, consumidores de uma farsa inteligentemente urdida. Com as suas habilidades consegue que os outros, voluntariamente, lhe entreguem a informação sensível e consumam as suas ofertas irrecusáveis.
O spammer 2.0 nunca assume a responsabilidade dos seus actos. Deixa que sejam os outros a lavarem a roupa suja para depois aplaudir.
Cuidado com eles, porque dá-se-lhes tudo e eles só dão em troca a sua máscara.
Mas lembremos-nos: quando a necessidade obriga a palavras sinceras, cai a máscara e aparece o homem. E é ali que se encontrará o verdadeiro spammer.