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O Tempo

news_artigo.gifO país mais seguro do mundo
Não me pareceu estranho que durante séculos de colonização dinamarquesa, um rei da Dinamarca pensasse em dada altura que o melhor que podia fazer pelos seus remotos súbditos era despovoar a ilha e levar todos os habitantes para várias colónias que possuía nas Índias Ocidentais.

O rei, que mudou de opinião, ter-se-ia surpreendido ao saber que, 200 anos depois da sua morte, uma cidade portuária de cabanas e nativos meio mortos de fome, à qual chegavam, em média, dois navios por ano de terras estrangeiras, se transformou numa das mais badaladas e procuradas por milionários e jovens em busca de fins-de-semana de raves, vindos da Europa ocidental ou dos Estados Unidos, que estão à mesma distância.

A única coisa que pude ver quando, às nove da manhã de domingo fui passear até ao centro, foi uns quantos retardados das actividades nocturnas a beber café - muito bom, como tudo o que se bebe na Islândia - no urbano Café Paris, que, a propósito, servia os melhores croissants que comi ao norte de Buenos Aires.

As funcionárias falavam um inglês perfeito, tal como todos os taxistas. Antes de entrar no meu primeiro táxi islandês, esperei que saísse uma idosa islandesa.

Vi que entregava o seu cartão de crédito ao taxista que o passou por uma máquina colocada no tablier e depois lhe dava o recibo para que o assinasse.

Ao chegar ao aeroporto de Reikiavik tinha trocado um montão de dinheiro, porque tinha ouvido dizer que na Islândia era tudo muito caro, mas em breve descobri que, para os islandeses, o dinheiro pertence à Idade Média. Pagar em dinheiro mostra imediatamente que se é estrangeiro. Os islandeses pagam os cigarros, os cafés, tudo, com cartões de plástico.

O taxista tinha cerca de 50 anos mas falava inglês como um nativo. Melhor, inclusive. O islandês, em geral, fala melhor o inglês, com mais correcção, que a típica pessoa inglesa.

Depois de lá estar 10 dias não tinha a menor dúvida. Tem a ver com um sistema educacional que é manifestamente superior, além disso o uso da legendagem não só em todos os cinemas, mas em todos os programas de televisão cuja língua original é o inglês. Falar inglês na Islândia é tão corrente e natural como falar castelhano na Catalunha. Por isso, quase todas as pessoas falam um terceiro idioma.

O mais surpreendente do centro de Reikiavik, à parte uma catedral peculiar e estranhamente grande - com arquitectura que tanto poderia pertencer ao século XII como ao XXII - é o número de bebés e de grávidas muito jovens que se vêem.

A segunda coisa é a densidade de restaurantes e bares (sushi, tapas, indianos, mexicanos, asiáticos, italianos, franceses, além de tabernas islandesas tradicionais nas quais se serve baleia, frailecillo (ave), cormorán (ave) e tubarão putrefacto).

A terceira, a escassez de farmácias e nenhuma, que eu tenha visto, com a profusão de medicamentos para problemas estomacais que é costume ver-se no mundo ocidental.

Com um sistema de saúde grátis tão bom e uma expectativa de vida tão longa, está claro que este é um negócio no qual não vale a pena investir.

Quanto à qualidade das lojas de moda e de design (nas quais se vêem marcas locais a partilhar o espaço, orgulhosas, com os grandes nomes italianos), as lojas de alimentação onde se encontra presunto ibérico e as livrarias, talvez não espantasse se estivéssemos, por exemplo, em Copenhaga.

Mas estamos numa cidade de 100.000 habitantes que às nove da manhã de um domingo tem o ar, as cores e as dimensões – sobretudo em sentido vertical, porque todos os edifícios são baixos - de uma aldeia de pescadores.

"Surpreendeu-me o facto de o meu filho o ter enviado para se encontrar comigo, porque está sempre a dizer-me que não devo falar com a imprensa”, diz Olor Einarsdottir, enquanto fecho a boca que se abriu e me reponho da surpresa que me causou ouvir que já é avó de três netos.

Essa foi a sua resposta quando lhe disse que me custava a acreditar que tivesse um filho de 28 anos. Quanto à sua surpresa do Eidur me ter enviado, explico-lhe que não tenho nenhum interesse, nestes momentos, em falar de futebol.

"Se o que quer é aprender coisas do nosso país", diz a bela senhora Einarsdottir - sorridente, mas com firme aperto de mãos e olhar seguro - "o que lhe recomendo que faça durante o tempo que estiver por aqui, é perguntar como é possível que, no prazo de 20 anos, tenhamos passado de um país pobre, obscuro e atrasado para um dos mais modernos, prósperos e em expansão da Terra".

Assim lho prometo e ela olha no seu computador uma lista com os nomes e os números das pessoas que devo ver.

É a eficácia personificada, como claramente tem que ser para dirigir uma operação logística que, nos fatigados meses de verão, lembra os desembarques do Dia D, mas todos os dias da semana.

A empresa que possui é a maior companhia de turismo de aventura na Islândia. Activity Group tem 100 moto-neves e meia dúzia de gigantescos off-road para gelo, seguramente o mais parecido ao que o exército tem na Islândia.

O seu segundo marido (o pai de Gudjohnsen é um ex-jogador profissional que jogou, na Holanda e na Bélgica) é sócio na empresa e além disso tem tempo para ser um dos principais responsáveis da polícia do país, o chefe da unidade armada dos Vikings.

"Somos o povo mais afortunado do mundo... agora", diz a mãe do jogador, que viveu 16 anos na Europa continental com o seu primeiro marido.

"Mudamos e enriquecemos em muito pouco tempo. Antes da nossa independência da Dinamarca, em 1944, antes que os britânicos e os americanos estabelecessem bases militares aqui na segunda Guerra Mundial, éramos uma das nações mais pobres da Terra”.

A África com mais frio? “Exacto”, sorri. “A gente tinha que ser robusta. Não se trabalhava para gastar, gastar como vemos hoje, mas para sobreviver.

Hoje, este é o lugar perfeito para viver. Muito seguro, sem pobreza, o melhor lugar para criar filhos. E de repente temos tanto dinheiro que não sabemos que fazer com ele.

Os islandeses - já verá - estão obsessivos a comprar os últimos caprichos, os mais recentes mesmo. Os nossos carros são todos novos. Viajamos por todo o mundo. A gente no estrangeiro não sabe quase nada de nós, mas nós sabemos tudo sobre eles".

Como para provar que tem razão, ao sair do seu escritório meto conversa com os motoristas de um dos seus mega-jeeps para gelo, um homem grandalhão de trinta e tantos anos.

"Barcelona?", diz. " A melhor cidade do mundo!".

Uma jovem secretária levanta a vista do ecrã do computador. "Não", diz. "Madrid é melhor. Mais vida".

"Mas o trânsito em Madrid...!", responde o motorista, que não tem precisamente esse problema por ali.

"Mas Madrid tem menos turistas", replica a secretária.

O debate poderia ter continuado o dia todo, se não tivesse chegado o meu taxista, que também fala inglês estupendamente.

A mãe do jogador aperta-me a mão com firmeza, deseja-me boa sorte e, olhando-me nos olhos, diz:

"Este é um país único e assombroso. Já verá".

John Carlin


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Criado em: 27/01/2007 • 14:12
Actualizado em: 27/01/2007 • 14:33
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Comentários

Comentário n°2 

Gleisson 15/03/2012 • 15:40

Olá,

Gostei do relato supracitado, gostaia de ter a mesma sorte que vocês.

Sou brasileiro. Não sou pessimista, mas meu país está a muito tempo a beira do caos, presenciamos constantes relatos de corrupção na politica, o nosso sistema de segurança é precário e ineficaz, temos pessoas em determinadas partes do país que carecem de alimento, eduacação, moradia, etc...

Gostaria de ter apenas uma oportunidade para tentar mudar, mas o sistema é controlado pela massa que o habita, desta forma fica impenetravel.

Anseio por mudança, ou melhor, todos os brasileiros querem mudança rapida e generalizada, fato que ocorreu na Islandia.

Obrigado por dividir essa estória com todos, pois aqui vivemos de utopia.

Abraço...


Comentário n°1 

PAULA 19/08/2010 • 15:37

kconcordo com tudo, excepo na comida não gostei muito. vivi na islândia meio ano, depois veio a crise e tive de regressar ao meu país (Portugal). Mas amei o país e quando estiver melhor financeiramente heide lá voltar, os meus filhos adoraram................. a lingua é linda, linda........l

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