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news_artigo.gifARTIGOS DE FUNDO - Os professores deviam ganhar o dobro e trabalhar metade
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No nosso país gerou-se um debate sobre a autoridade dos professores. Propôs-se até reforçar a sua figura por meio de leis. Acha que os docentes perderam autoridade?

Os professores em todo o mundo estão a perder a autoridade, mas isto não é possível atribuir às crianças ou adolescentes. Estas crianças e adolescentes padecem de uma nova síndrome, que se chama Síndrome do Pensamento Acelerado.

Transformaram-se em consumidores de produtos e serviços e não de ideias ou sensibilidade. No passado, o volume de informação duplicava a cada 200 anos, agora duplica a cada cinco anos. Esse excesso de informação conduz ao desenvolvimento de ansiedade, irritabilidade... e à falta de respeito das regras.

Mas uma lei não vai resolver o problema da autoridade. O que se tem que fazer é mudar a educação totalmente, com uma educação mais humanizada.

A autoridade deve marcar a relação professor-aluno?

Sim, mas a autoridade não imposta, a autoridade que promove a protecção da emoção, a liberdade criativa, a aventura intelectual.

A autoridade que controla é um problema, mas não há dúvida que os educadores e professores deveriam ser mais valorizados e respeitados pela sociedade. Na minha opinião, deveriam ganhar o dobro e trabalhar metade.

Os professores deveriam ser tratados com dignidade, ter mais liberdade, não para controlar, mas para estimular a arte de pensar, para provocar a inteligência, para que os jovens deixem de ser as vítimas da história para passar a ser os protagonistas da história.

Defende formar pessoas activas, não cidadãos passivos.

Sim, é que estamos a formar uma geração de pessoas passivas. As heranças negativas que vamos deixar são péssimas e além disso não estamos a formar uma geração de pensadores que possam dar respostas inteligentes a estas questões.

Nessa transformação, que relação se deveria estabelecer entre alunos e professores: respeito, distância, amizade...?

Uma combinação entre autoridade e afecto. É uma fórmula na qual é difícil encontrar o ponto intermédio: ou se tem muita autoridade e pouca sensibilidade ou se tem muita sensibilidade e pouca autoridade.

No caso dos pais falta em muitas ocasiões a troca de experiências, um aspecto chave. Os pais devem expor os capítulos mais importantes da sua vida aos filhos.

Os filhos devem conhecer os seus sucessos e também os seus fracassos, as suas frustrações... para que os filhos construam na sua mente uma imagem real dos seus pais, desmitificando-os e criando um novo modelo: o de uma pessoa que sofre, que luta... para que os filhos possam realizar os seus sonhos.

Muitos pais baseiam-se em manuais de comportamento, de regras, mas os manuais servem para conduzir máquinas, não pessoas.

"Estamos a criar uma geração de pessoas passivas"E qual deve ser a relação entre pais e professores?

O confronto entre pais e professores é a tónica geral no mundo inteiro. Em todas as nações há mais agressividade: mais agressividade entre pais e professores, entre pais e filhos e entre os próprios alunos.

De acordo com diferentes estudos, entre 6% e 40% das crianças ou adolescentes de todo o mundo sofreram num dado momento de algum mau-trato psicológico ou físico.

Isto deve-se ao facto da sociedade moderna se ter transformado num grande hospital psiquiátrico. O normal é estar irritado, nervoso, tenso, não ter paciência, não colocar-se no lugar do outro...

O contrário é o anormal: ser empático, abraçar mais, fazer de cada dia um momento mágico... Os pais devem preparar os filhos para que entendam o teatro da vida. Sinceramente, parece-me que muitos pais estão a preparar filhos doentes para uma sociedade doente.

Os bons pais dão aos filhos presentes, os pais brilhantes dão aos filhos a sua história pessoal.

Os bons professores preparam os alunos para o sucesso, os professores brilhantes preparam os alunos para os dias mais difíceis, para transformar o negativo em energia criativa.

Todas as pessoas passam por situações muito agitadas e imprevisíveis. Temos que aprender a proteger as nossas emoções.

Como?

Os segredos são vários: aprender a dar sem esperar algo em troca, a entender que por trás de uma pessoa que fere há uma pessoa ferida, não exigir muito aos outros e ser mais flexível.

Muitos líderes, muitas pessoas de sucesso não sabem proteger as suas emoções porque não são flexíveis. Têm a necessidade neurótica de ter sempre razão e que todos gravitem ao seu redor. Isso é muito prejudicial. A capacidade de reconhecer os nossos próprios erros é fundamental.

Defende que a figura do professor é sagrada. Mas a realidade é que o sonho de muitos docentes consiste em aposentar-se o mais rápido possível.

Este é um problema mundial. A educação converte-se, em mais ocasiões do que as desejáveis, num dos poucos âmbitos em que há um vendedor e não há um comprador. E é nisso que vivemos neste momento de uma oferta ilimitada de informação.

Hoje, um menino de sete anos tem mais informação do que dispunha um imperador romano. Mas estas informações não se transformaram em conhecimento, conhecimento em experiência e experiência em sabedoria.

São informações que produzem stress, inquietação, ansiedade. Produz-se uma hiperactividade funcional, aprendida por este sistema doente. É o que denominei anteriormente como Síndrome do Pensamento Acelerado.

Sofrem de dores de cabeça, dores musculares, falta de concentração, insatisfação crónica, irritabilidade, oscilação emocional, desprezo das regras...

E isso reflecte-se num consumo desmedido de produtos e serviços. Transformam-se em ditadores que querem tudo pronto e rápido.

"Os pais devem contar aos filhos os seus sucessos e também os seus fracassos e frustrações"Em que deve mudar então o estilo de vida?

Importa assumir que é preciso tempo para treinar o cérebro. Uma pessoa é mais rica do ponto de vista psiquiátrico e psicológico quanto mais avalia as pequenas coisas como um presente para a sua emoção e como um treino, uma preparação para a vida.

Nunca se desenvolveu tanto a indústria do entretenimento e nunca as pessoas foram tão tristes e depressivas. A depressão vai transformar-se dentro de 20 anos na doença mais importante.

E o que pode fazer-se nas escolas?

Devemos fazer com que as crianças tenham mais contacto com a natureza, que se potenciem os trabalhos manuais, que aprendam música...

A música clássica é muito boa para desacelerar o pensamento. Por isso, sugerimos que as salas devem ter música ambiente durante a aula e os alunos se coloquem em semicírculo em volta do professor, numa espécie de plateia.

Só com estas duas medidas tão simples, o stress de crianças e professores seria reduzido para metade.

Já o provamos e comprovamos em escolas conflituosas do meu país, do Brasil.

A par dessas técnicas e outras, conseguimos que em três meses se deixasse de chamar a polícia todos os dias e que os alunos mostrassem interesse e prazer pelo conhecimento. E esta mudança não requer grandes investimentos. É barato.

Precisamente, nunca se investiu tanto na educação e, no entanto, os resultados estão longe de ser os desejados.

É verdade. Insisto: os professores são, a meu ver, as pessoas mais importantes de uma sociedade, mas estão dentro de um sistema educacional doente. Estamos a produzir pessoas doentes para uma sociedade doente.

Vou dar um exemplo: no sistema educacional não se humaniza o conhecimento e isso é um crime intelectual porque as crianças, adolescentes e universitários acreditam na falsa verdade de que produzir conhecimento é uma tarefa de super-heróis, de gigantes.

E não é assim. Todos os grandes produtores de conhecimento atravessaram crises, sofreram dilemas, foram rejeitados...

Além de humanizar o conhecimento, é preciso potenciar a imaginação face à informação. A escola comete um erro quando centra a sua preocupação em fazer com que os alunos acumulem informação e mais informação.

Mais de 90% da informação que se acumula no córtex cerebral não se recupera. É mais importante organizar de uma nova forma os dados, desenvolvendo o pensamento imaginativo, para pensar com exemplos, desenvolver o raciocínio esquemático, a invenção...

"Hoje uma criança de sete anos tem mais informação que um imperador romano"O segredo é potenciar as ferramentas de pensamento.

Exacto. É fundamental. A capacidade de armazenamento de dados é limitada, mas a capacidade criativa é inesgotável. Pretender encher a cabeça de dados e dados e mais dados produz ansiedade e irritabilidade.

Redes sociais, chat, fóruns... A Internet transformou-se na praça pública onde os jovens estabelecem relações. Que atitude devem adoptar os pais?

É verdade que a Internet permite ampliar o mundo dos jovens e também aumenta a superficialidade das relações e, com ela, a falta de confiança e uma dificuldade enorme para troca de experiências de vida profunda.

Acho que deve haver um limite e que os limites devem ser estabelecidos pelos pais, mas, na medida do possível, sem imposições, com diálogo. As regras devem ser compreendidas antes de ser aceites.

Convém, portanto, que as relações presenciais que mantêm os jovens prevaleçam sobre as virtuais.

As relações físicas são insubstituíveis. Produziram-se nas últimas décadas dois fenómenos que mudaram as relações humanas.

O primeiro foi a televisão. Os pais e filhos prestam mais atenção às imagens que aparecem no ecrã e o diálogo mútuo transforma-se em silêncio. A família transforma-se num grupo de estranhos que vivem no mesmo lugar.

O segundo fenómeno é a Internet. É muito melhor que a televisão, porque o espectador já não é passivo. É activo. Com a Internet conhecemos muitas pessoas, mas, e eis aí o problema, conhecemos só a sua sala de visitas, não os seus cantos mais íntimos.

Além disso, a vida não dá para ter dezenas, centenas de amigos íntimos, que é a ilusão que pode fazer crer a Internet. É impossível. Os bons amigos podem contar-se pelos dedos de uma mão ou de duas no máximo. Para isso é preciso cultivar a realidade presencial.

"Nunca se desenvolveu tanto a indústria do entretenimento e as pessoas nunca foram tão tristes e depressivas"Os pais devem ser amigos de seus filhos?

Os pais têm que ser os melhores amigos dos filhos. Também têm que colocar limites, mas a equação entre limites e amizade é a questão.

É necessário surpreender os filhos, sair da rotina, contar as perdas e frustrações, para que os filhos entendam que através das nossas experiências vitais, que nem sempre foram positivas, nos tornamos mais sensíveis, mais humanos, mais generosos.

Não acha que essa amizade dos pais pode confundir os filhos sobre a natureza desta relação?

A amizade que eu defendo não é ser previsível, não é ser permissivo com os filhos, não é sobreproteger os filhos ou deixar que os filhos manipulem os pais.

Hoje os filhos estão a manipular os pais. Ser amigo significa construir uma imagem excelente nos filhos, abraçar mais, ser mais carinhoso e mais generoso; e ao mesmo tempo, saber colocar os limites, aprender a dizer «não»... Isto é, estabelecer uma equilíbrio entre autoridade e afectividade.

Esse equilíbrio não parece fácil.

Não o é. Mas se não o fazemos, como vamos preparar os nossos filhos para enfrentarem os desafios da vida, as crises, as angústias, as decepções... se não preparamos os nossos filhos para se relacionarem com outros seres humanos?

Não o fazemos se nos baseamos num manual de regras muito estrito e superficial e também não o fazemos se somos muito permissivos e lhes compramos tudo. Assim, só formamos consumidores que só são números de um cartão de crédito.

O fracasso escolar, o assédio, o 'bullying' são problemas antigos e comuns a todas as sociedades. Por que se dá a isso tanta importância na actualidade?

É cada vez mais habitual a crueldade entre crianças e jovens e a falta de sentimentos perante a dor dos outros.

Há uma crescente falta de empatia, de colocar-se no lugar do outro. É uma das funções mais importantes da inteligência e não está a ser trabalhada.

Que deveria fazer-se? Pais e professores deveriam acompanhar as crianças e adolescentes e mostrar a vida das pessoas menos favorecidas: desempregados, idosos, pessoas doentes...

Se não treinamos os filhos centenas de vezes nisso, essa capacidade não se desenvolve. Produziremos, assim, líderes que serão autênticos desastres, que olharão só para o seu próprio umbigo. Nem todas as pessoas podem ter grandes carreiras ou grandes empregos ou grandes reconhecimentos.

Como se pode ensinar na sociedade do triunfo a viver sem ele?

A sociedade actual está obcecada pelo triunfo, pelo pódio, pelo número um. Mas apenas algumas pessoas poderão aí chegar.

Mas podemos ser o número 10, o número 100 ou o número 1.000 com dignidade e felicidade e isso pode e deve ensinar-se. Infelizmente, a agenda paranóica da sociedade estimula o contrário.

"Os pais têm que ser os melhores amigos dos filhos, mas isso não significa permissividade ou sobreprotecção"Tem filhos?

Tenho três filhas que adoro.

Aplica com elas o que afirma?

Aplico e em algumas ocasiões tenho de reconhecer erros, pedir desculpas... porque quero que as minhas filhas entendam que uma pessoa madura é aquela que reconhece os seus erros.

Há alguns anos, a minha filha mais velha atirou-me à cara que tinha muitos pacientes, que dava muitas conferências, mas que ultimamente não tinha tempo para falar com ela. Olhei-a nos olhos, abracei-a e disse-lhe: "É verdade". E mudei.





Criado em: 07/11/2009 • 12:37
Actualizado em: 07/11/2009 • 12:44
Categoria : ARTIGOS DE FUNDO


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Comentários


Comentário n°9 

carla freire 13/11/2009 • 18:25

Se puderes me manda alguma coisa desse livro que fizemos "No gesto da procura",adorava ver,quase que nem lembrava mais,não fosses tu a me reavivar a memória.
Beijos

Comentário n°8 

carla freire 13/11/2009 • 18:13

Meu querido amigo e professor
Li com emoção tua resposta
Podes não acreditar,mas me lembro dessa cena do "CATIVAR" tão bem quanto tu,e mais,conservo esse livro,o dessa época,até hoje comigo.
Tem coisa que a gente nunca esquece e aprendizados que ficam para semre.
Bem hajas

Comentário n°7 

jmruas 11/11/2009 • 15:24

Minha querida Amiga (e ex-aluna) Carla,

Ambos podemos dizer, pela vivência, que o afecto vale a pena. E quando li o que escreveste, pensei cá para mim: "acabou de mandar para o tecto com muitos tratados de pedagogia".

Lembras aquele diálogo da raposa e do Principezinho que descobrimos juntos há trinta e tal anos? (claro que ninguém que nos lê acredita que te lembres ou que eu me lembre passado este tempo todo... pensam eles...)

- Anda brincar comigo - pediu o  principezinho.
- Não posso brincar contigo - disse a raposa - ainda ninguém me cativou...
- Ah! Desculpa lá. «Cativar» quer dizer o quê?
- Vê-se logo que não és de cá. De que andas à procura?
- Ando à procura de amigos. «Cativar» quer dizer o quê?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu - disse a raposa - quer dizer «criar laços»...

E foi de laços que se fez a pedagogia e de paixão a descoberta mútua a que chamam "ensino".

Fizeste-me recuar no tempo e recordar.

Quando numa das primeiras aulas me saiu a palavra “amor”, todos riram em cochicho, como se tivesse dito uma asneira. Tinha apenas quebrado um tabu, iniciado um caminho. Só então entendi verdadeiramente o que os meus professores queriam dizer quando nos apregoavam que também aprendiam com os alunos.


Fui buscar estas linhas àquele livro que fizemos "No gesto da procura" - também ele cimentou a cumplicidade.

É isso, cumplicidade, afecto, laços que se criam e a recordação que fica. E termino... fui traído pela névoa da emoção...

Comentário n°6 

carla freire 11/11/2009 • 02:14

Parabéns por publicares este artigo,antes de mais nada.
A afectividade é muito importante sim,e faz toda a diferença,como sabes morei alguns anos no Brasil,e apesar de o nível educacional no Brasil ser talvez um pouco inferior ao nosso em qualidade,não o é em outros aspectos,no que diz respeito á troca de afectividade e carinhos entre professores e alunos,nas escolas Brasileiras o professor ou professora são o tio e a tia,se abraçm,se beijam e dizem quando se amam,sem que isso afecte a relação de autoridade e respeito.
Experimentem abraçar mais vossos filhos,vossos alunos,irão ver o resultado
e digam a verdade pra eles,seja boa ou má
Dá certo
Bjs de uma ex-aluna

Comentário n°5 

Leonel Menezes Costa 08/11/2009 • 20:09

Sugiro que aproveitemos o que resta do fim de semana para descansar/distrair e seguir a tese do Paulo Bento:Tranquilidade .Dito isto só queria dizer que conheço os problemas dos professores,mas não gostava de os discutir.Em relação aos afectos,reconheço que talvez não haja segredos,mas há diferenças:A comida não se envia pelo correio,mas os afectos,neste mundo tão moderno,pode-se dar a toda a hora e momento e das mais variadas formas.
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