
Há muito que se sabe que a falta de sono nas crianças pode originar perdas na capacidade intelectual, diminuição da memória e até redução no coeficiente de inteligência.
Como se isto não bastasse, aumentam também as possibilidades de problemas cardiovasculares precoces e transtornos no comportamento.
Agora, uma equipa de cientistas da Universidade de Montreal, Canadá, descobriu também que a falta de sono em crianças favorece o sobrepeso e a hiperactividade.
Segundo os investigadores, um quarto das crianças que dormem menos de 10 horas aos dois anos e meio padecem de sobrepeso aos seis anos.
Entre os seis meses e os seis anos de idade, 90% das crianças experimentam pelo menos um problema associado ao sono.
Dos mais frequentes, segundo a Sociedade Basco-Navarra de Pediatria , destacam-se a insónia por hábitos incorrectos (que requer uma reeducação da criança), o sonambulismo (cuja idade mais frequente é entre os 4 e os 8 anos), o bruxismo ou ranger dos dentes durante o sono, os terrores nocturnos (que provocam agitação e angústia na criança) e os pesadelos.
Sobrepeso e também obesidade
Para a maioria das crianças, estes incidentes são passageiros, mas cerca de 30% das crianças nesta faixa de idades, acaba por desenvolver dificuldades em dormir regularmente pelo menos seis horas seguidas.
Segundo os cientistas, as crianças que dormem menos de 10 horas apresentam quatro vezes mais riscos de sofrer excesso de peso que aqueles que dormem 11 horas por noite.
Tal como explica o Dr. Jacques Montplaisir, professor do departamento de psiquiatria da Universidade de Montreal e director do Centro de Estudos do Sono de Montreal, cerca de 30% das crianças que dormem 10 horas por noite entre os dois anos e meio e os seis anos padecem de sobrepeso.
Os resultados foram definidos a partir da análise de dados de 1.138 crianças, no âmbito de um estudo longitudinal do desenvolvimento das crianças de Quebec (ELDEQ), realizado a 10 e 11 de Novembro. Outras percentagens indicam que, desses 30% de crianças, 7,4% são obesas.
Explicação hormonal
Segundo os especialistas, a relação entre sono e peso poderia ser explicada por mudanças nas secreções hormonais ocasionados pela falta de sonho.
Montplaisir explica que, quando dormimos menos, produzimos mais grelina, que é uma hormona que provoca a sensação de fome. Esta hormona é gerada pelas células epiteliais endócrinas de uma parte do estômago conhecida como fundus gástrico.
Com a falta de sono, há também uma produção menor de leptina, que é uma hormona gerada pelos adipocitos (células gordas do organismo). A leptina fornece informação sobre o metabolismo celular e a sua função é diminuir a ingestão de alimentos.
Infelizmente, estes efeitos da falta de sono não se podem solucionar com a sesta, porque as crianças que dormem pouco durante a noite têm também a tendência para dormir sestas mais curtas.
Hiperactividade
Segundo esta mesma investigação, a insuficiência de sono traz também outro risco para a saúde infantil: a hiperactividade.
Este transtorno da conduta em crianças foi descrito pela primeira vez nos princípios do século XX e há referência ao excesso de actividade motora, sem que esta tenha uma razão aparente do mesmo modo que a incapacidade para a concentração, entre outros sintomas.
A hiperactividade é uma doença que se calcula afectar hoje em dia cerca de 5 a 10% da população infanto-juvenil, sendo aproximadamente mais 3 vezes frequente nos rapazes.
A análise de dados realizado pelos investigadores canadianos revelou que 22% das crianças que dormiam menos de 10 horas aos dois anos e meio eram hiperactivos aos seis anos.
Esta percentagem seria o dobro da taxa observada entre as crianças que dormiam 10 ou 11 horas por noite nessa mesma idade.
Montplaisir assinala ainda que, no caso dos adultos, a falta de sono traduz-se em sonolência ou em alterações do humor mas, no caso das crianças, esta carência produz muita excitação e nervosismo.
Falta de sono generalizada
No estudo, as crianças foram também submetidas a uma prova de rendimento cognitivo que consistiu em reproduzir uma figura com a ajuda de blocos de duas cores.
No caso das crianças com carência de sono, a taxa de erros nesta prova atingiu 41%, enquanto que, no caso das crianças que dormiam entre 10 e 11 horas por noite, foi de 17 a 21% .
Em Espanha, segundo o especialista em sono infantil Eduard Estivill, autor do livro “Método Estivill: Guia Rápido para ensinar as crianças a dormir”, 30% das crianças têm problemas de sono que poderiam resolver-se modificando apenas os hábitos de dormir.
Estivill assinala que as crianças entre 4 e 5 anos devem dormir aproximadamente 11 horas, os de 8 anos devem dormir pelo menos 10 horas e os de 13 ou 14 anos aproximadamente nove.
Yaiza Martínez